Destaco
agora um gênero musical que tem ganhado extrema visibilidade no país
atualmente, o funk ostentação. Nele, pessoas de comunidades carentes assumem o
papel de poderosos endinheirados e propagam em suas letras uma vida bem
distinta da vivida por alguns deles mesmos fora dos palcos. Com isso, uma
perigosa mensagem é passada por esses artistas que, talvez, inconscientes e
inofensivamente estejam propagando um modelo de vida, do qual ostentar, a todo
custo, é a palavra de ordem.
Segundo
a definição dicionarizada, a palavra ostentação significa “ação ou efeito de ostentar, afetação na ação de exibir riquezas ou
dotes”.
Casarões,
carros importados, joias, bebidas, mulheres bonitas e, claro, muito dinheiro, é
o que enfatiza as letras e clipes desse gênero musical. Uma mega produção é
criada para retratar o sonho desses cantores, com direito até da
participação de famosos. Entretanto, falta em algumas letras à ideia de como um
jovem, que vive à margem da sociedade, irá conquistar tantas riquezas da noite
para o dia. Fora do subjetivismo musical, sabemos que para enriquecer num país
como o nosso é preciso nascer em berço de ouro, herdar milagrosamente alguma
herança, ganhar na mega sena, virar celebridade instantaneamente, fazer parte
da política corrupta do país, jogar futebol ou cometer atos ilícitos. De todos
estes, talvez seja o último que leve muitos adolescentes a esbanjar o que não
podem, sobretudo através do submundo do crime, controlados nas favelas pelas
armas e pelas drogas.
Cercados
pela pobreza e, muitas vezes sem perspectiva de vida, muitos jovens se encantam
com esse universo de faz de conta da ostentação e acabam fazendo de tudo para
se incluir nele. Evidentemente que nem todos ingressam na marginalidade para
mudarem de vida. Muitos são os casos em que os indivíduos, através da música
como os Mcs, conseguem ascensão social de forma honesta. Agora, o público,
principiante e facilmente manipulado, nem sempre absorve de forma correta a
mensagem das letras do funk que tem como foco ostentar um modelo de vida
discrepante do grande público. Como, a partir do funk atual, minimizar a
marginalização desses adolescentes que, vivendo hipnotizados nesta sociedade de
consumo, não veem outra alternativa, a não ser melhorar de vida, custe o que
custar?