O
novo projeto de lei que pretende proibir que adultos usem palmadas para punir
as crianças e adolescentes está dando o que falar. Desde que o Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva assinou a proposta e a enviou ao Congresso, mães, pais,
psicólogos, pedagogos e educadores têm se posicionado diante da possibilidade
de aprovação da ideia.
Michele
Patrício do Nascimento tem uma filha de três anos e conta que já perdeu a
paciência com a menina: "Uma vez, ela respondeu para mim. Eu dei uma
bronca, falei firmemente com ela. Como não adiantou, coloquei-a de castigo, mas
não bati". A vendedora se diz contra a violência e a favor de uma educação
genuína, que vem de dentro dos lares.
Porém,
Michele não concorda que exista uma lei para proibir os pais de darem
"palmadinhas" e "beliscões" em seus filhos. O problema,
segundo ela, é que podem surgir denúncias exageradas de um vizinho que tenha
visto uma criança chorando sem necessidade, por exemplo.
Para
uns, algo inconcebível na relação familiar, uma maneira arcaica de ensinar.
Para outros, uma alternativa legítima dos pais, um método de educar os filhos,
livre de danos físicos ou psicológicos. Poucos assuntos geram tanta
controvérsia quanto dar ou não palmadas em crianças como forma de puni-las e
mostrar o certo e o errado. Prova disso é um referendo nacional que ocorreu há
duas semanas, na Nova Zelândia. Há dois anos, o país tornou a palmada crime.
Além do tapa nas nádegas, outras formas de agressão - ditas brandas - contra
crianças e adolescentes, como beliscões, chacoalhões e puxões de orelha,
passaram a render ao agressor (em quase 90% dos casos, pais ou mães) o
pagamento de multas, o encaminhamento a programas de reabilitação e até mesmo à
prisão. A punição máxima é de seis meses de cadeia. Leis contra a palmada
existem em 24 países (leia quadro), mas a da Nova Zelândia é a mais severa. O
país possui um dos índices mais altos de violência contra menores entre as
nações desenvolvidas.
No
Brasil, o assunto também divide opiniões. O designer gráfico Flávio
Evangelista, 39 anos, e sua mulher, a administradora Keila, 32, são contra
qualquer tipo de agressão física. O casal é pai de Pietro, de 2 anos, e é
conhecido na escola do menino pela facilidade em dialogar com ele. "Tive
uma educação severa, mas só apanhei uma vez do meu pai", diz Evangelista.
"Não desejo a nenhum ser humano o que senti." Há os que acreditam na
eficácia das palmadas em determinadas situações.
O
professor de filosofia Dante Donatelli, 45 anos, autor do livro "A Vida em
Família - As Novas Formas de Tirania" e pai de cinco filhos, entre 10 e 25
anos, defende que, dos 3 aos 10, as crianças não são capazes de entender os
argumentos paternos. "Qualquer pai que vê seu filho debruçado sobre a
varanda não diz 'sai daí, meu lindo'", exemplifica. "Ele fica
louco." Em casos como esse, Dante afirma que os pais devem deitar a
criança sobre os joelhos e espalmar as nádegas. Para ele, só assim a criança
entenderá a gravidade da situação. Dante, no entanto, diz que repudia qualquer
outro tipo de agressão.
A respeito deste tema, qual a sua opinião? Justifique.